O Hanshi, 8º Dan em Karate, Benedito Nelson Augusto dos Santos, mais conhecido como Mão de Ferro, nasceu em 1942, na capital paulista, e foi o primeiro brasileiro a obter a faixa preta de Karate Shotokan. Além deste estilo, praticou o Goju-Ryu e se especializou em confeccionar e restaurar armaduras e espadas. Treinou com o Sensei Akamine, foi colega de treino de Juichi Sagara, que se tornou o seu grande amigo, e fez parte da primeira turma de alunos da Nihon Karate Kyokai (NKK) do Brasil, composta por nomes como Milton Osaka e Hiroyasu Inochi. No Goju-Ryu, treinou com Paulo Nakaema e Ryuzo Watanabe.
Foi professosr de forja do Adriano Pereira Silva Sensei (Sukemassa Sojobo Fushimotto) e colega de treino do Grão Mestre Hanshi Péricles Daminsk Viegas.
Quando ainda jovem, Benedito estava numa quermesse do seu bairro e presencia o malandro mais famoso, o Tonhão-preto levar uma facada de outro rapaz e de repente toda aquela força do malandro se transforma em fragilidade devido ao golpe que levou. Intrigado com a vulnerabilidade do homem, ele começa a questionar como ser forte e anular o golpe de uma arma. À convite de seu amigo Claudio Rosa, Benedito começou a frequentar a academia “Máquinas Moreira” na rua da Moóca e decidiu treinar Boxe, porém na mesma academia existia um setor chamado “Academias Ono” que tinha treino de Judô. Enquanto treinava boxe, admirava os treinos de Judô e Jiu Jitsu, mas seus amigos falavam que lugar de negro é no box e aquilo era luta de oriental. O magnetismo das Artes Marciais foi tanto que pediu para sua mãe costurar com uma toalha velha seu kimono, que no primeiro treino de Judô voltou aos trapos. Por um tempo treinou Judô e Jiu Jitsu com o professor Seizi Haniuda, mas conhecido como Professor Osvaldo. Assim começou sua paixão pela cultura oriental, histórias e costumes.
Certa vez observando seu amigo treinar boxe, notou uma diferença nos seus golpes e perguntou o que este estava treinando, foi quando ouviu pela primeira vez a palavra Karate. Seu amigo Claudio disse que estava aprendendo Karate com um senhor japonês conhecido como “velho”, no bairro Casa Verde, colônia de imigrantes japoneses. Benedito pediu para conhecê-lo porém no primeiro encontro o velho mandou ele dar meia volta e ir embora, porque não queria ensinar Karate para ninguém. Já no ponto de ônibus, de volta para casa ele ficou indignado e voltou na residência do Velho e disse que ficaria ali até ele lhe ensinar Karate. O velho sorriu e pediu que ele voltasse no próximo sábado à tarde.
Assim o velho o iniciou no treinamento filosófico sobre a conduta de um guerreiro, teve aulas de etiqueta japonesa, aprendeu a falar e escrever nihongo, treinou seu corpo e sua mente incansavelmente. O velho se chamava Jiro Takaesu, vindo de Okinawa e ensinou Benedito a arte de treinar o Makiwara, Iawara e as ginásticas para formação dos músculos de um verdadeiro combatente. Com o passar do tempo e a evolução do aprendizado de seu aluno, o velho resolveu levá-lo para treinar em uma academia com um mestre de karate que havia chegado a pouco tempo no Brasil, chamado Shikan Akamine. Foi com o sensei Akamine que Benedito aprendeu Kobudo e a lutar Goju-Ryu, também aprendeu Hone-sugui. Na sua turma estava o imigrante Juichi Sagara e juntos iniciaram uma grande amizade.
O apelido de Mão de Ferro surgiu em 1974, no Rio de Janeiro, durante um campeonato no Rio de Janeiro. Na véspera Benedito Nelson com seus 68 kg estava treinando na academia de um amigo, quando este lhe apresentou um rapaz que estava no auge de sua carreira pois vencera alguns campeonatos com seus 92 kg. Benedito Nelson foi convidado pelo rapaz a lutar Jiu-Kumite. Segundo a etiqueta oriental essa atitude já foi de desrespeito, porém BNAS aceitou o convite considerando-o como um desafio de um novato. O rapaz partiu com fúria para cima de Benedito dando um mawashi-gueri seguido de um guiako, Benedito se esquivou num tai-sabaki e com um kizami-zuki soltou a mão na direção da maçã do rosto do rapaz, que no mesmo instante se abriu num profundo corte. Benedito imediatamente levou o rapaz ao Miguel Couto (pronto-socorro). Chegando lá, o médico que o atendeu não aceitou em hipótese alguma que a pancada era proveniente de um murro e registrou no seu prontuário que a pancada foi devido a um “golpe de barra de ferro”. Os amigos de Benedito Nelson que ali estavam ouviram o que o médico disse e concordaram que se aquela pancada fosse realmente de um murro, a mão teria que ser de ferro e foi naquele momento que apelidaram Benedito de “Mão de Ferro”.
Depois de um bom tempo treinando com Juichi Sagara e com os outros três professores, chegou o momento do exame de graduação que naquela época era de branca para preta. Benedito Nelson fez o exame, mas por motivos culturais e até raciais não lhe deram a faixa-preta. Decepcionado e atingido pela revolta, Benedito Nelson foi na aula seguinte com uma faixa marrom e seguindo a etiqueta que dita a regra de que um menos graduado pode bater no graduado (porque todo graduado tem a obrigação de saber se defender), Benedito Nelson lutou com os outros alunos e o resultado foi um vestígio de sangue e ossos quebrados. Com a compreensão que tinha naquela época, Benedito lutou o Karate de combate, mostrando a todos que estava apto a receber a faixa-preta e assim o conseguiu após duas semanas.
Benedito Nelson foi militar da Aeronáutica, escreveu diversos livros sobre artes marciais e também foi destaque na revista Karate. Em agosto de 2013, aos 71 anos, faleceu, mas seu legado marcial permanecerá para sempre, por meio da família e alunos.
OSS
